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Celibato não é imposição, mas graça de Deus

22 / nov / 2011

O assessor da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé / Tradução da Bíblia da CNBB, padre Luís Henrique Eloy e Silva“A Igreja reconhece o celibato como um dom porque toda a capacitação para uma maior dedicação ao Senhor e à Igreja será sempre graça de Deus”, ressalta padre Luís Henrique Eloy e Silva, assessor da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé / Tradução da Bíblia da CNBB.

O sacerdote salienta ainda que todos aqueles que iniciam um processo de formação em vista da consagração celibatária estão cientes dessa dedicação total a que são chamados. “Sob esse aspecto, é inaceitável falar de imposição. Ninguém é obrigado a se consagrar ou a pedir o ministério da ordem sacra se não se sente conscientemente preparado para assumir tal estado de vida”, afirma.

Padre Luís Henrique é um dos palestrantes do Simpósio Nacional O dom do celibato na vida e na missão da Igreja*, que acontece de 21 a 23 de novembro na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).

Em entrevista exclusiva ao noticias.cancaonova.com, ele fala sobre sua palestra “Por uma compreensão Cristocêntrica do Celibato”.

noticias.cancaonova.com – Quais são as principais raízes de compreensão cristocêntrica do celibato?

Padre Luís Henrique Eloy e Silva – Quando se fala em fundamento cristocêntrico do celibato, para além da compreensão de que o próprio Cristo foi celibatário, é preciso dizer que, no Novo Testamento, todas as motivações a respeito da continência perpétua têm sua raiz no próprio Senhor.

Um primeiro grupo de motivações, citado inclusive pelo Catecismo da Igreja, encontra-se em Mt 19,12 e 1Cor 7,32, onde, respectivamente, a finalidade é posta em vista do “Reino dos Céus” e “para cuidar somente das coisas do Senhor”.

Quando, porém, se fala da imagem cristocêntrica do celibato vinculado intimamente ao ministério sacerdotal, é preciso partir da imagem de Cristo como esposo, como se pode ver, por exemplo, em textos como Mt 25,1-13; Lc 12,36; Jo 3,29; Ef 5,22-33; Ap 19,7 e 21,2, de cujo esponsalício flui a dimensão da paternidade espiritual do sacerdote, chamado a “gerar Cristo” na vida dos fiéis.

noticias.cancaonova.com – Quais são as principais contribuições e riquezas do dom do celibato àqueles que abraçaram a vida consagrada? Como compreender essa norma disciplinar da Igreja a partir do prisma da escolha livre, e não da imposição externa de uma regra, um jugo?

Padre Luís Henrique– A principal riqueza que o dom do celibato concede aos que o receberam é a possibilidade de uma dedicação maior e total ao Reino e ao serviço pastoral da Igreja, com um coração indiviso e voltado somente para as “coisas de seu Senhor” (cf. 1Cor 7,32). O próprio apóstolo Paulo recomendou este estado de vida aos que se sentiam chamados a uma dedicação mais plena (cf. 1Cor 7,7-8).

Embora o celibato, além de sua dimensão teológica enquanto dom de Deus, seja também visto, sob outro prisma, em sua dimensão jurídica, como norma disciplinar, não podemos nos esquecer de que todos aqueles que iniciam um processo de formação – processo que não é curto – em vista da consagração celibatária, estão cientes dessa dedicação total a que são chamados. Sob esse aspecto, é inaceitável falar de imposição. Ninguém é obrigado a se consagrar ou a pedir o ministério da ordem sacra se não se sente conscientemente preparado para assumir tal estado de vida.

noticias.cancaonova.com – Enfim, por que o celibato é um aspecto que a Igreja reconhece como um dom? Como ele ajuda os consagrados na vivência de sua missão no mundo?

Padre Luís Henrique– A Igreja reconhece o celibato como um dom porque toda a capacitação para uma maior dedicação ao Senhor e à Igreja será sempre graça de Deus. A Igreja é de Cristo,que é sua cabeça, seu pastor e seu esposo. Como compreender que diante de tal grande mistério, os homens, sem a dimensão do dom, pudessem ser capazes de tornar a Igreja presente no mundo, se não fosse por Graça de Deus?

É daí, particularmente, que em relação ao sacerdócio ministerial fica clara a representatividade sacramental de Cristo, quando a Igreja ensina que o sacerdote age na pessoa de Cristo cabeça e Pastor (in persona Christi Capitis et Pastoris).

Espera-se que o consagrado, a partir do momento em que esteja ciente de que para ele “viver é Cristo” (cf. Fil 1,21), de que o ministério é de Cristo e de que a Igreja é de Cristo, conscientize-se também de que não é possível anunciar Cristo sem viver como ele viveu. Nesse sentido, o dom do celibato tem a missão de anunciar ao mundo o desejo não somente de uma dedicação mais plena a Cristo, ao seu evangelho e a sua Igreja, mas – sobretudo – o desejo de ser somente dele e de só a Ele pertencer (cf. 1Cor 6,19).

Fonte: Canção Nova

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