Clique Cristão

Flor da pele

06 / nov / 2011

Eis um círculo. Pessoas em volta a conversar pautas de aprendizagem…

Entre olhares, palavras e silêncios que bradam em meio ao murmúrio de ideias, observo carteiras, equipamentos tecnológicos, livros, e o principal, entre as coisas que vejo, me aparece o sujeito: o homem.

Eis um homem, entre tantos, que aparecem à minha percepção, como “homem feito de sonhos”. Ei-lo! Anotando cada entrelinha citada pelo falante. Olhos postos, como barco ancorado em alto mar, olhando o horizonte…

Eis um círculo e no círculo entre tantos semelhantes, ele, esperando o momento em alto mar…

Naquele momento, as palavras tecidas como um fino bordado vão despertando o “humano”, demasiadamente “humano”, com mais pré-conceitos que conceitos, seguindo setas, pontes e trilhas de outrem que já nessa estrada passaram para ir aprendendo a aprender. Quem são estes que deixam marcas? Doutores, mestres, especialistas? Não! O homem! O homem em busca de si. O homem que se procura e que se perde… Procurando entre encontros e desencontros do caminho um outro que ora aparece, ora desaparece velando e desvelando-se em suas mais variáveis performances de ser. E… lá estávamos, cada um do seu jeito, com seus sonhos, mas..

Eis um círculo, palavras dançam em ritmo alucinante, para logo depois valsar entre os silêncios decantados da reflexão poética, tais quais as ondas que espraiam na areia. Palavras que se fazem carne ou não, um logos que transforma ou morre estéril na porta da boca que cala no ouvido que apenas ouve… Mas em que as mentes se indagam: o que querem de fato dançando em nossas cabeças tantas palavras?

Volto o olhar… Lá está ele… Nada lhe passa despercebido, ou passa, eu é que não percebi! Seu caderninho é um roteiro de mares navegados para logo depois virar rota para aqueles que se interessarem por navegar em mares grandes. Sim! Mares grandes, é por lá que ele parece navegar, pois, quando abre sua boca, as palavras trazem o som da profundidade daquele que aprendeu a navegar além da superfície das águas, e o melhor, não se apropria do saber que sabe. Ao término de sua colocação com uma humildade socrática baixa a cabeça e fala: essa é a minha opinião, vocês aí é que sabem… Nesse momento, o círculo para inquieto, pois as palavras desse homem desalojam aquele que pensa que sabe, pois ele mesmo é um andarilho em busca de saber aquilo que não sabe. Em seu rosto, o porquê: por que um homem não reconhece outro homem como tal?

Eis um círculo! Enquanto observo sou observada, e me pego a pensar até que ponto trabalhamos para viver, se é que viver é trocar um carro novo por um outro carro novo ou etecetera coisa e tal. Ah Santo Agostinho… “As pessoas viajam para admirar a altura das montanhas, as imensas ondas dos mares, o longo percurso dos rios, o vasto domínio do oceano, o movimento circular das estrelas, e, no entanto elas passam por si mesmas sem se admirarem.

Sentindo-me observada, retruco: sou normal! Nesse mesmo instante me pego retrucando dessa vez comigo: Isso não existe! Normal? Assim, no trabalho para sobreviver, me percebo mergulhada em um mundo de palavras que me tecem de acordo com os movimentos das ondas desse mar em que navego e, entre um intervalo e outro, o homem que olha que fala e que está bem a minha frente brada silenciosamente que está à flor da pele, me fazendo lembrar o Baleiro (cantor de MPB) a cantarolar saindo do círculo e mergulhando naquele grito de dor, amor ou falta dele: “Ando tão a flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar…” Acordei! Minha sensibilidade que envolta em lágrimas dançava fora do círculo, ao som dessa música e encaminhando-me até aquele homem, fez-me comungar com ele em fração de segundos em seu mundo interior cheio de cores, tal qual um arco-íris, para lembrar-lhe que a chuva cessou.

Eis o círculo. Estou de volta. Eis os homens. Eis a vida. Eis a flor da pele. Eis o grande mar. Eis a terra. Eis o homem que lentamente olha as águas profundas esperando o momento de um dia, quem sabe, ver lá no horizonte os soldados da paz dançando em círculos com homens, mulheres e crianças de todas as cores, raças e classes na linda melodia repleta de palavras silenciosas que jamais se encontrarão se não houver um ou mais homens à flor da pele desse povo tão meu. Neste círculo tão eu.

 

Celuy Araujo

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